São escassos os dados biográficos conhecidos sobreFernão Lopes. Os testemunhos documentais de quedispomos informam, sobretudo, sobre os cargos queocupou ao serviço dos primeiros reis da dinastia deAvis. Por certidões de 1418, sabe-se que exercia asfunções de "guardador das escrituras do Tombo" e "escrivão dos livros" de D. João I e D. Duarte. Foi"escrivão da puridade" do infante D. Fernando, a partir de 1422, e, em 1437, lavrou o testamento doinfante martirizado em Tânger, já como "tabeliãogeral" do reino. Em 1457, D. Afonso V substituiu-o nassuas funções por Gomes Eanes de Zurara, sendo de1459 a última notícia relativa à sua vida. Enquantocronista oficial sob as cortes de D. João I, D. Duarte e regência de D. Pedro, redigiu as crónicas de D. Pedro ,D. Fernando e D. João I . As suas funções simultâneascomo guardador das escrituras e cronista-mor doreino acabam por favorecer o seu legado comohistoriador, visto que a composição das crónicasdependeu do conhecimento e seleção do material a que tinha acesso.
Data de 1434, segundo Damião de Góis, a suainvestidura por D. Duarte do cargo de cronista doreino, ao ser-lhe confiada a missão de colocar emcrónica "as estórias dos reis que antigamente emPortugal foram", bem como os "grandes feitos e altosdo mui virtuoso" rei D. João I, seu pai. Desta crónicageral, além do testemunho do seu sucessor, não havianenhum vestígio até serem encontrados osmanuscritos da Crónica de Portugal de 1419, que têmsido considerados de sua autoria. Com efeito, asalusões de Fernão Lopes, nas suas crónicas, a textosanteriores sobre os primeiros reis, assim como o conteúdo e circunstâncias de composição destesmanuscritos, parecem corresponder a esse projetohistoriográfico mais amplo de que fora incumbido o cronista. Mas é acima de tudo pelas crónicas de D.Pedro, de D. Fernando e de D. João I (que chegaram aténós por apógrafos do século XVI) que o talento e excecionalidade como historiador e como escritor,relativamente aos cronistas medievais, se afirmou.Não se trata para o cronista de refundir textoshistoriográficos anteriores, mas de elaborar em novosmoldes a narração do devir histórico, individualizandoos protagonistas na sua compleição psicológicadenunciada em ato, encenando os episódioshistóricos no mesmo momento da sua ocorrência,emprestando tanto quanto possível verosimilhançaao encadeamento dos factos. É no prólogo da Crónicade D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de historiar inovador. O seu desejo é "emesta obra escrever verdade sem outra mistura", parao que faz concorrer toda a gama de documentospossível, desde narrativas a documentos oficiais,confrontando-os entre si para assegurar a veracidadedos registos existentes: "Oh com quanto cuidado e diligência vimos grandes volumes de livros, dedesvairadas linguagens e terras, e isso mesmopúbricas escrituras de muitos cartários e outroslugares (...). Nem entendais que certificamos cousa,salvo de muitos aprovada, e per escrituras vestidas de fé [...]".
P.S.
Foi o pai da nossa História, estava avançado para a sua época até na Europa.
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